Ivan Leite
Com a presença cada vez mais frequente de alunos especiais na escola pública, a Diretoria de Ensino de Santo André tem intensificado a capacitação de Gestores e professores como forma de criar uma discussão a respeito desse assunto tão delicado que é a inclusão.
A distribuição de filmes em DVD tem sido uma das ferramentas utilizadas pela Diretoria de Ensino para criar, de algum modo, uma espécie de sensibilização, reflexão e por consequência forçar-nos a abrir um canal de discussão.
Dois filmes este ano, ambos bem dramáticos e emocionantes, me fizeram passar por essas experiências: “Como Estrelas na Terra”, filme indiano que conta a história de um menino disléxico e todo o seu drama de vida por ter a incapacidade de compreensão do que lê e “Meu Nome é Rádio” filme americano que conta a história de um jovem negro, que se comporta como se tivesse deficiência intelectual, mas que na verdade é apenas “lento”.
De forma bastante clara, percebemos nos dois filmes a presença de espírito de professores empenhados em tentar amenizar o drama da existência desses seres especiais. Eles puxam para si a responsabilidade de ajudá-los, tendo como ponto de partida seus próprios dramas existenciais e pessoais, que se transformam em ideais de vida em relação a esses seres diferentes.
Em “Como estrelas na Terra”, o professor, que também fora incompreendido pelas pessoas na sua juventude por ser portador de dislexia, ajuda o pequeno Ishaan Awasthi a superar suas dificuldades e lhe dá auto-estima para seguir vivendo.
Em “Meu Nome é Radio”, o professor ajuda um jovem negro apelidado de Radio (dado por sua paixão a rádios) a se socializar com as pessoas em uma escola. Nesse caso o professor se motiva a ajudá-lo, porque no passado presenciou uma situação de maus tratos a um jovem e que, por algum motivo, deixou de ajudá-lo. Agora, de alguma forma, ele pode fazer diferente em relação a esse jovem, que precisava apenas de atenção e carinho para poder existir como gente.
Penso que os dois filmes comunicam seus objetivos: retratar a difícil convivência desses seres humanos e suas superações em meio àqueles que são considerados comuns. Mas não podemos esquecer que os filmes “Como estrelas na Terra” e “Meu nome é Rádio” são filmes de ficção, pois trazem neles a linguagem ficcional como forma de comunicação, mesmo para os classificados como histórias reais que é o caso de “Meu Nome é Rádio”. Tudo isso não diminui, de qualquer modo, o canal de discussão do tema da inclusão, mas ele deve ser cada vez mais desenvolvido para melhor ser discutido.
Parece-me que o objetivo dos Dirigentes é passar-nos a ideia de que a situação da inclusão é uma realidade que deve ser administrada por nós professores, mas sinto que a discussão sobre o tema dos especiais ainda está apenas começando e eu, como professor, necessito de mais informações e mais capacitação, pois a distância entre a ficção e a realidade é muito grande.
Ivan Leite – Santo André – 24 de junho de 2011 – Inverno - 11h59min
5 comentários:
Fico preocupado com a política neoliberal do governo paulista, pois joga de forma afetiva, apelando para situações extremas para comover nossos espíritos e dessa maneira, tenta ignorar a realidade dos professores, que jogados em meios de alunos agressivos e no limite da tolerância, chegam a perguntar se a inclusão é parte que lhe cabe nessa profissão ou se também somos severinos...
Prof. Ivan, no ano passado tive um aluno especial, cadeirante, cujo pai e irmão mais velho, também eram portadores do mesmo problema dos ossos de vidro, segundo informações que obtive na Escola. Uma história de vida bem complicada, pois a mãe os havia abandonado, viviam com o pai.
Este jovenzinho, meu ex-aluno, tinha uma grande liderança na sala, por outro lado, uma certa rejeição dos colegas por ele. Fora da sala, do ambiente dele, ele era "conversável", pois ouvia o que dizia (eu achava...), respondia, entretanto ao voltar pra sala de aula, retomava o comportamento rebelde, respondão, se negava a realizar atividades fossem quais fossem, raramente produzia. Conversei com ele, em separado, por algumas vezes na tentativa de trazê-lo para mim, mas acho que foi em vão... Não lidamos somente com o aluno portador de necessidades especiais, mas em uma mesma turma temos diferentes (e tristes) histórias de vida para administrar: alunos cuidados pelos avós (maioria), alunos cujo pai (ou pai e mãe) está preso, aluno disléxico, aluno hiperativo, alunos abandonados pelos pais, alunas se prostituindo, e por aí vai... Como diz um dos textos que estou lendo para a prova de promoção... na faculdade não nos ensinaram a trabalhar com toda esta diversidade...
Obrigado, Sr. Joaquim e Delfiol pelos comentários sobre a discussão da inclusão.
Judith Pupo Mascaro disse: (...) desde os anos 90 participei de reuniões e treinamentos iguais a esses que vc está fazendo. Então lembrei do filme "O PRIMEIRO DA CLASSE", que trata de um professor que tenta superar sua deficiência: "A SÍNDROME DE TOURETTE". Também é verídico... Sensacional, mas na telinha. Abraços, Judith.
A inclusão não pode ser banalizada. É um tema amplo que deve ser discutido horizontalmente e não imposto como um decreto em sala de aula como temos visto. Falta capacitação para lidar com toda essa diversidade e adversidade que se apresenta em sala de aula.
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