Eu lendo o texto "Perguntas!" no anfiteatro do Mainumby |
* Texto escrito para o encerramento do Mainumby-III - 4o. semestre 2011
Ivan Leite
Desde que me entendo por gente, nunca fiquei satisfeito com as respostas das perguntas que me acompanharam e também aquelas que me acompanham sempre. Estou sempre perguntando o porquê das coisas.
Lembro-me de uma minissérie de televisão, do começo dos anos 90 chamada “Anos Rebeldes”, havia uma personagem que representava uma censora, pessoa que na época da ditadura militar liberava ou não uma programação de televisão. Essa censora perguntava ao personagem Galeno, um escritor de novelas, porque as personagens dele faziam tantas perguntas. Na cabeça dela, fazer perguntas induzia as pessoas a pensarem e isso não era bom.
Na minha cabeça, fazer perguntas faz pensar sim, e isso é mais do que bom. Às vezes, elas nos fazem parar, pois a dúvida nos exige um tempo para o próximo passo, mas aquelas que são respondidas nos ajudam a caminhar com mais segurança, ou não, pois a vida em seu processo dinâmico nos força de tempos em tempo a fazermos novas perguntas para nos redirecionarmos, logo, fazer perguntas é algo sadio e necessário.
No livro “Transformar é possível” Dona Ute Craemer nos relata que a pergunta: “Tem algo para dar?” feita pelas crianças da favela Monte Azul, quando vinham mendigar um pedaço de pão, a motivou a tornar a Associação Comunitária Monte Azul uma realidade, que hoje por meio do Mainumby-III nos dá a oportunidade de aprendermos a dar algo para alguém.
Há também as perguntas que às vezes nos incomodam profundamente, e uma, tive que conviver com ela por muito tempo até chegar ao Mainumby II em agosto de 2006.
Certa vez, uma pessoa me perguntou: “Como pode uma pessoa que mal fala ser professor?” Essa pergunta fez mudar radicalmente meu modo de ser, pois não queria que minha timidez pudesse prejudicar meus alunos.
Quando cheguei ao Mainumby – II, no meu primeiro encontro, a palestrante, na terceira frase que proferiu, aliviou-me do peso que trazia dentro de mim por tanto tempo. Ela disse: “... poder ouvir é ir atrás do outro...” A partir dessa afirmação, compreendi que aquelas palavras que reverberaram por tanto tempo dentro de mim não podiam ser verdadeiras. Aprendi com ela que ouvir o outro também faz parte do ensinar e aprender.
Hoje nosso grupo de interesse dos 7 aos 14 anos escolheu o tema “Perguntas” para fechar o ano de 2011, porque elas estão sempre presentes em nossa prática diária e brotam no grupo na ansiedade de encontrarmos respostas prontas, que assim não é, porque só conseguimos respondê-las a partir das respostas trazidas pelas experiências individuais do processo vivido pelos outros, que pode, às vezes, não servir como resposta para nossas angústias particulares, daí, ao invés de respondê-las à contento, novas perguntas surgem para novas reflexões, porque, na verdade, não há respostas prontas, mas sim, algo que nos faz mover, ou seja, fazer outras perguntas.
Ivan Leite – Santo André – primavera – 02.12.2011 – 21h30min
Uma reflexão:
Uma resposta nunca merece uma reverência mesmo se for inteligente e correta, nem assim você deve se curvar para ela...
Quando você se inclina, você dá passagem a uma resposta. A resposta é sempre um trecho do caminho que está atrás de você.
Só uma pergunta pode apontar o caminho para frente...
(De: Jostein Gaarder – “Ei! Tem alguém aí?”)
6 comentários:
OI IVAN EU NUNCA HAVIA MEDITADO DESSA MANEIRA EM RELAÇÃO AS PERGUNTAS E FAZ TODO SENTIDO OS PENSAMENTOS SE FAZEM ATRAVÉS DAS PERGUNTAS,DESDE OS PRIMÓRDIOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO.como dizia o grandioso Sócrates "Penso,logo Existo",bjs
Ivan me identifiquei muito com este tema pois sou uma pessoa que falo demais...e estou aprendendo a ouvir...isso é essencial para a nossa profissão.
Parabéns pelo texto!
Prof. Ivan, muito interessante seu texto! Também sou tímida, sempre tive dificuldades de falar em público, na faculdade isto foi um dificultador, pois tínhamos vários trabalhos, cuja apresentação era pra nossa turma. Sofri bastante com isto!
Bem mais tarde fui ser ATP na Oficina Pedagógica, onde o falar para grupos de professores se tornou mais frequente, não tinha como fugir. A solução foi encarar isto de frente para desempenhar bem minha função. Acho que consegui!
Tenho certeza que nossa timidez não nos prejudica como profissionais, pois trabalhamos, falamos, mais que isto usamos a palavra, falada e/ou escrita, como nosso meio de interagir com o mundo, por meio de nossos blogs, onde nos revelamos.
Parabéns pela sua carreira profissional! Parabéns pela busca incessante do saber!
Ivan, se as perguntas nos fazem movimentar, é algo que concordo totalmente. Essa semana tive que avaliar minhas coordenadoras e como só havia três formas de responder as questões pedagógicas: não atendeu, parcialmente e plenamente. Depois de ler atentamente, respondi todas as questões na opção parcialmente. Foi uma grande discussão, pois minha coordenadora disse que era plenamente e a minha supervisora disse que ela era nota DEZ, caso tivesse que avaliar ela própria. Mas, eu lhe afirmei que na escola, eu não me daria nota Plenamente.. Ou seja, precisamos de humildade...
Ivan, foi grande a emoção no momento de sua leitura. e desde esse dia ficou na minha mente a frase: “Tem algo para dar?” Essa frase é forte. Mexeu comigo. Muito obrigada por ter compartilhado conosco o seu texto! Que você e sua família tenham um Ano Novo muito feliz!Que 2012 possa ser um ano de muitas realizações!
Uma grande reflexão.
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