2º. Encontro:
Oficina – 1
Coordenadores:
Reynaldo Damazio e Cristina Paiva
Data: 22.09.2012
Reynaldo Damazio:
(poeta, editor, crítico
literário, autor de Horas perplexas).
Cristina Paiva:
(jornalista e crítica literária,
colaboradora do Guia da Folha).
Oficina – 1:
Sala das Oficinas - Pinacoteca de São Bernardo do Campo |
No último dia 22 de setembro de 2012,
a oficina literária do Tantas Letras!
recebeu a jornalista e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Cristina
Paiva. Ela apresentou ao grupo uma leitura da sua dissertação de mestrado: “Oficinas de criação como rede em construção:aspectos comunicativos nas propostas de Edith Derdyk e Mario Bellatin”.
Cristina iniciou sua exposição falando
sobre criatividade e logo em seguida falou ao grupo sobre “crítica genética”,
definiu a expressão como - nome dado ao estudo do processo de criação artística
que leva em consideração não só os manuscritos, mas todos os tipos de
documentos usados pelo artista na criação da sua obra de arte.
Então, Cristina contou a todos que sua
orientadora de mestrado, a Profa. Dra.
Cecilia Almeida Salles, confirmou, com sua própria experiência, que o processo
de criação não se reduz simplesmente ao manuscrito. Ela comprovou isso, quando pediu
ao escritor Ignácio de Loyola Brandão
para que lhe desse, para estudos, os manuscritos do livro: “Não Verás País Nenhum”, só que ao invés
dele entregá-lo simplesmente, deu-lhe uma caixa repleta de desenhos,
fotografias, músicas, anotações de diários e outros documentos que ele usou para
escrevê-lo.
Cristina continuou contando que esse
fato fez com que a Dra. Salles criasse uma teoria a respeito de toda essa
experiência. Ela diz o seguinte: a escrita é um movimento de apropriação e
transformação; ela não é linear e seu percurso é tortuoso, vai e volta; a
escrita é uma rede em construção num processo formador.
Na sequência, Cristina distribuiu aos
presentes 3 textos de Mario Bellatin
para leitura e discussão do grupo. Foram eles: “Cravos [11]”; “Trevos [13]” e
“Açucenas [17]” do livro: “Flores” (da
Editora Cosac Naif, 2009 e tradução de Josely Vianna Baptista). O livro, que foi recebido
pela crítica como originalíssimo, pode ser lido como se fossem mosaicos, criando um todo. Há nele
cruzamentos entre os textos e o caráter de objetividade da narrativa, ao tratar
de temas absurdos, gera certo estranhamento no leitor.
Mario Bellatin. Foto: Gabriela León http://www.cosacnaify.com.br/flip2009/index.php/2009/06/26/flores-de-mario-bellatin-2/ |
Após as discussões e
impressões do grupo sobre a leitura dos textos, Cris Paiva deu aos
participantes da oficina uma visão de quem é Mario Bellatin. Ele foi vítima da talidomida, que mutilou seu braço
direito; usa essa mutilação como algo autobiográfico , porém de modo sutil,
enviesado. A mutilação aparece de várias maneiras em seus livros e podemos
associar a falta de capa do seu livro Flores
a uma brincadeira nesse sentido.
Escreve, escreve e depois vai cortando e cortando, e cria com isso um sistema
de escrita que encontra nexo nos fragmentos e recorrências das escritas. Ele
questiona a verdade da ciência e usa o tempo presente para dar caráter de
objetividade em uma escrita cortante. Sua escrita abre espaços vazios para o
leitor e faz diálogos com outras artes, cinema (takes) por exemplo.
16/09/2012 - 08h00
“A escada”
JOCA REINERS TERRON - ESPECIAL PARA A FOLHA
1. Aqui começa a viagem para cima. Aqui começa a viagem para baixo. O
que nem todos sabem é que escadas não levam apenas acima e abaixo. Escadas são
passagens para outras dimensões. Não se trata somente de subir ou de descer,
mas de transcender.
2. Em 1925, uma faxineira desapareceu na escada entre o 29º e o 30º
andares do edifício Martinelli, em São Paulo. Apesar de seu marido afirmar que
ela fugiu com outro, nunca se soube de seu paradeiro. Desde então aquele trecho
das escadarias ficou conhecido como Triângulo das Bermudas. Outro mistério é a
origem de tal nome. "Tenho certeza de que naquele dia a Maria usava saia",
afirmou a única testemunha.
3. Ajoelhe-se diante de uma escada e aproxime o ouvido do primeiro
degrau. Nele, você ouvirá o tum-tum dos fabricantes de escadas africanos,
aqueles que salvam vidas humanas e aumentam o jejum forçado dos leões.
4. Pise numa escada e de repente você estará em outro plano.
5. Após almoçarmos num restaurante perto de casa, falei que a deixaria.
No caminho de volta ela enlouqueceu aos poucos, e ao chegarmos em casa estava
fora de si. Me agrediu com um rodo, daqueles de banheiro. Procurei me defender.
Despencamos no chão. Ela me perseguiu com uma tesoura de cortar cabelos que
guardo até hoje (achei-a alguns dias depois na rua em frente).
Na fuga, despenquei por dois lances da escadaria do prédio.
6. Os antigos incas acreditavam que escadas eram a única forma de se
atingir o plano divino. Por isso seus monumentos tinham a escada como principal
elemento arquitetônico. Ao escalá-las, os incas ficavam mais próximos de Deus.
Eles não contavam, porém, que o Deus deles também poderia descer pelo mesmo
caminho. A escada foi o início do fim dos incas.
7. Alguém se acidentou aqui.
8. Seu Zé Maria esfrega as escadarias do edifício Itália há exatamente
35 anos. Em seu trabalho de zelador já encontrou de tudo: lenços ainda úmidos
do choro de despedida de alguém que desapareceu, uma fantasia de Homem-Aranha e
mais de 20 pessoas desmaiadas. Ele afirma que um fantasma habita aquela
escadaria. "Mas eu nunca vi", diz. E completa: "Quando estou
subindo, o fantasma está descendo. E vice-versa". Seu Zé Maria, ao contrário
dos incas, é bastante sortudo.
9. A cada passo acima você se torna mais transparente (nuvens).
10. Depois de cair da escadaria, vaguei manco pela cidade até o endereço
de um amigo. Ele ainda não tinha chegado do trabalho, e o esperei na rua. Sentado
no meio-fio, percebi a ferida em meu joelho direito.
Tinha a estranha forma de uma escada.
11. A cada passo abaixo o tom de sua pele se intensifica (chamas).
12. O monumento de pedra mais antigo do mundo é a pirâmide de degraus do
rei Zóster, em Saqqara, no Egito (2665 a.C.). Reza a lenda que seu arquiteto,
Imhotep, desapareceu sem deixar pistas. Pesquisadores dizem que ele foi
sequestrado por OVNIs. Contudo, acreditamos que Zóster se encarregou
pessoalmente do sumiço de Imhotep. É sempre assim: quando os reis aprontam
alguma, a culpa sempre recai nos alienígenas.
13. Escadas se desdobram em vários sentidos, conduzindo a outras
dimensões.
14. Dentro deste bueiro há uma escada que leva a outro bueiro onde
existe outra escada e assim sucessivamente, até dar aqui embaixo, onde nós te
esperamos.
15. A ferida nunca foi totalmente curada. Meu joelho direito não é mais
como antes. Sinto dores periódicas no local, e através delas consigo prever a
chegada de frentes frias. De modo que ainda me sinto preso àquela escada. Penso
em fazer plástica para corrigir a cicatriz. Sempre escolho ir pelo elevador.
16. Uma escada se esconde em cada descuido. O contrário também pode
ocorrer.
17. As faces dos degraus onde pisamos se chamam espelhos, em
arquitetura. A denominação não surgiu por acaso: as escadas de alguma forma têm
o poder de refletir nossa personalidade, determinando assim o destino de cada
um de nós. Ao subi-las, lembre-se: não se trata somente de subir ou descer, mas
de transcender.
18. Escale esta escadinha de corda e saia num alçapão no centro do
picadeiro de um circo da China.
19. Coisas terríveis acontecem nos desvãos das escadas, principalmente
nos romances policiais.
20. Escadas helicoidais têm hélices e viajam.
21. Quando está tudo escuro e não há ninguém por perto, bem devagarinho
e silenciosamente as escadas começam a rolar.
22. Escadas não têm fim.
Fonte
do texto “A escada”:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1153794-a-escada.shtml
(acessado em 30.10.2012)
Ivan Leite – 30.10.2012 – Santo
André – 07h23min. – Primavera
(*)Texto reescrito com sugestões
de Cristina Paiva. (19.11.2012 – 22h25min)
5 comentários:
Fiquei louca para escrever o meu texto, pode ser qualquer tema cotidiano? tipo uma viagem de ônibus?
Obrigada pelo texto.
Su
Sueli, um assunto que se repete de vários ângulos.
Obrigada, vou escrever o meu texto e envio, será que pode opinar se escrevi direito?
agradeço
abraço
Su.
Sueli, não esqueça que tem que escrever em mosaicos e a palavra desenvolvida deve aparecer pelo menos uma vez!!!
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